Adelino Ângelo: Celebrar a vida em vida!

Neste dia, há dois anos, a Associação Juvenil – OUGAR celebrou nove décadas do génio de Adelino Ângelo. Na casa onde o mestre nasceu, o Solar de Lamas, homenageou-se a maior figura da arte vieirense, contando com a presença de familiares, amigos e admiradores da sua obra.

Reconhecido por tratar, na tela, a essência do ser, procurando descrever, nas suas linhas, a alma dos mais desfavorecidos, os discursos proferidos na cerimónia nivelaram-se pela grandeza do homem homenageado.

A intervenção da associação organizadora abriu as hostes, tendo-se afirmado a importância de tais celebrações, em local próprio, trazendo a Cultura à Casa, com um nome indiscutível nas Artes e na nossa terra. Abandonada de Cultura, a outrora Casa-Museu Adelino Ângelo, recebia, finalmente, aquilo que devia ser o seu propósito: uma iniciativa cultural, diferenciada, abrangente.

Em representação das instituições autárquicas, as palavras do Presidente da Assembleia Municipal, Tenente Coronel Pinto da Costa, destacaram os “retratos dos vultos mais frágeis da sociedade”, os “poemas em tela” e o desejo de ver a obra do mestre em exposição naquela que é a sua casa.

Adriana Henriques protagonizou um dos melhores momentos da noite, engrandecendo a pessoa do mestre, relembrando a sua obra e temáticas e recordando que aquela, a Casa de Lamas, será sempre a sua casa, culminando num sentido abraço àquele que foi uma das suas inspirações para a carreira artística. Não deixou de exaltar a importância da juventude para o desenvolvimento das nossas terras, cultivando a Cultura e as Artes.

Foi com o Dr. José Adelino, sobrinho do homenageado, que se fincou que a História não se apaga, rememorando que o nome de Vieira do Minho foi mais além com o trabalho do mestre Adelino Ângelo, um “artista que teve a capacidade de romper fronteiras, criar coisas novas”. Celebrou, ainda, os “90 anos de vida bem vivida” e da “arte de viver”.

A sequência de discursos de homenagem culminou com a intervenção do próprio nome maior da cerimónia, o mestre Adelino Ângelo. Este, por sua vez, agradeceu a todos pela presença e pelos elogios que lhe foram dirigidos, não sabendo se seriam merecidos ou não, mas afirmando-se como um professor e pintor que ultrapassou todas as fronteiras do Mundo para ali chegar.

Seguiu-se em canto lírico, ouvindo cantar os parabéns ao homenageado. Apesar de tudo, o tradicional coro de “desafinos” de todos os presentes fez-se ouvir logo de seguida. Cortou-se o bolo, serviu-se o champanhe e por ali se ficou em convívio, enaltecendo a obra do mestre Adelino Ângelo, entre fotografias e votos de sucesso e saúde, até ao fecho de portas.

A simplicidade da cerimónia tornou-a intimista. Os ingredientes cruciais para a tornar numa realidade foram a vontade de fazer diferente e o desejo de ver a Casa da Cultura de Vieira do Minho com dinamismo. E por esta vontade e este desejo existirem, a OUGAR não se ficou pela simples homenagem ao mestre Adelino Ângelo. Na semana seguinte, foi levada a cabo uma exposição com obras de Adriana Henriques, Domingos Silva e todos os artistas “por achar” que quiseram participar. Ainda no mesmo dia, Adriana Henriques, Ana Ribeiro, Antonieta Machado e Manuel Batoca sentaram-se com o professor José Marques Fernandes para debater o futuro da Cultura em Vieira do Minho: uma mesa redonda com elevação, com um debate útil daquilo que havia a melhorar para dar vida à Cultura vieirense. Por infelicidade (ou má vontade), a associação foi proibida de fazer qualquer captação de imagens ou áudio da iniciativa.

Mas, voltando ao foco da questão: o mestre Adelino Ângelo celebra, no dia de hoje, 92 anos. O solar onde nasceu, que, até há bem pouco tempo, tinha o nome de “Casa-Museu Adelino Ângelo”, esquece este pormenor. À escala da nossa terra, esquecer Adelino Ângelo é esquecer a Cultura.

Hoje, era dia de lembrar o mestre. Era dia de, na Casa da Cultura de Vieira do Minho, inaugurar uma exposição em seu nome. Era dia de, finalmente, dar à Casa da Cultura de Vieira do Minho as condições para receber as obras do seu mestre. Era dia de celebrar. Dia de Cultura.

Ao invés disso, continuamos a bater na mesma tecla: as mesmas atividades, sem qualquer inovação. Ora o “Domingão”, ora o “Somos Portugal”. Ora as chegas de bois, ora as garraiadas. E venham mais duas desgarradas!

Adelino Ângelo está para Vieira do Minho como Amadeo de Souza-Cardoso está para Amarante ou Nadir Afonso para Chaves. É preciso destacá-lo, honrá-lo, dar nome ao nosso nome!

Ao mestre e amigo Adelino Ângelo, muitos parabéns!

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“A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.”

António Lobo Antunes

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