Sr. António Portela, uma vida além-fronteiras (primeira parte)

Enquanto a neve derretia na Serra da Cabreira, dirigi-me à comunidade de Cova, onde se crê ter existido um povoamento pré-histórico, mais especificamente no Lar de Santo Amaro.

Mal cheguei, senti o afecto das funcionárias da Instituição, recebendo breve rescaldo sobre as festividades de Santo Amaro, e encontrei o Sr. António José Vieira Portela a olhar para a janela, a absorver a magnífica paisagem da Albufeira de Caniçada e da Serra do Gerês.

Nascido no dia 12 de dezembro de 1935, na freguesia de Louredo, concelho de Vieira do Minho, o Sr. António e os três irmãos, que já não estão entre nós, cresceram a ver a dedicação dos pais, D. Maria Joaquina Vieira e Sr. José Dias Portela, ao mundo da lavoura.

Quando era criança, gostava de brincar com uma cinta metálica de uma pipa, fazendo corridas de arcos, que eram tão populares. Procurando chegar rapidamente à meta, não podia correr sem rodar o arco, porque o resultado estava à vista: desclassificação.

Com grande tristeza, afirma que não sabe ler: “O meu pai não me deixava ir à escola… tinha de guardar o gado”. Recorda, igualmente, as idas com o pai à aldeia da Ermida, elevando a tradição de pastoreio comunitário, a vezeira, dizendo com emoção: “Tínhamos de atravessar o rio Cávado. Às vezes, a água tinha muita força e as vacas nadavam porque não existia barco… não ficávamos mais de duas noites no monte”.

As festas estiveram presentes quando era criança. Lembra-se de se ter perdido na Feira da Ladra. Tinha ido com a mãe. Perguntaram-lhe: “Porque estás a chorar?”. Respondeu: “Perdi a minha mãe”. De imediato, os altifalantes espalharam a notícia e levaram triunfantes, e velozmente, a “carta a Garcia”, visto que a mãe não demorou a encontrar o seu rebento.

Foi crescendo e o físico exigiu uma troca de posições nas actividades agrícolas que fazia com o progenitor: “Comecei a podar pelo chão e o pai, com a ajuda de uma escada, podava ao alto. Depois, com o pai mais velho, fui para a escada e o pai veio para baixo”.

Conheceu a D. Clarinda Amélia Martins Pires e com ela haveria de casar, na Igreja Matriz de Louredo, com 20 anos de idade. O Padre José Luís celebrou o casamento. Foi uma cerimónia simples, mas, e isso é que é o mais importante, estavam presentes o respeito e o amor que embala a relação há 67 anos, não existindo, deste matrimónio, descendentes.

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