O Dia Internacional da Criança celebra-se, anualmente, em Portugal e tantos outros países, ao primeiro dia de junho. Esta comemoração, muito mais do que lembrar as nossas infâncias felizes ou celebrar a alegria dos mais pequenos que nos são mais próximos, é também o sinal da luta que há ainda por fazer na defesa dos direitos de todas as crianças do Mundo.
A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989 e ratificada por Portugal no ano seguinte, reafirma a vulnerabilidade das crianças, que, posto isto, necessitam de uma proteção e atenção especial. A família tem uma responsabilidade fundamental para a defesa e garantia dos direitos dos mais novos.
Para que toda e qualquer criança tenha os seus direitos como garantidos, não se pode descurar um fator essencial e que, por vezes, parece ser deixado de lado – a igualdade. Logo após definir quem são, afinal, as crianças que devem ver os direitos salvaguardados por este documento, o Artigo 2º procura firmar que nenhuma criança deve ser discriminada, sem qualquer exceção. Associando esta discriminação, comummente, à raça, religião, etnia ou orientação sexual, não pode ser esquecido um fator que não é de somenos importância. Há uma errada ideia de que o ponto de partida de cada um não é relevante para o desenvolvimento de uma criança. Dizem muitos – geralmente, de bolsos cheios – que é na privatização da Educação que se garante a melhoria no ensino. Não se garante, no entanto, a sua universalidade e a oportunidade de qualquer criança, independentemente do local onde nasceu e do meio em que cresceu, independentemente da conta bancária dos pais e das heranças dos avós, possa trilhar o seu caminho sem disso ter de abdicar por não ter meios de continuar o seu desenvolvimento. O mesmo se aplica à Saúde.
Infelizmente, o maior dos males a afetar as crianças no Mundo não se prende somente a questões de igualdade. Todos os dias nos são noticiados os infanticídios na Palestina, os trabalhos forçados espalhados pela miséria vivida na Ásia, a subnutrição que assola os países africanos. Servem, estes, de exemplo pelo tormento do qual nenhuma região está livre. Nem Portugal se escapa à crueldade, ainda que os casos sejam menos frequentes.
Torna-se já notório o meu fascínio pela música e a adaptação dos grandes nomes a qualquer situação por mim descrita. Hoje, qualquer excerto do álbum Os Amigos de Gaspar, de Sérgio Godinho, caberia nesta publicação, já que se trata de um álbum infantil, no entanto, como supramencionado, o dia da Criança vai muito além disso.
Para retratar de forma exímia o que é a luta pelos direitos das crianças, o mesmo Sérgio Godinho lançou, em 1997, o álbum Domingo no Mundo, cuja faixa homónima aborda o trabalho infantil, levado a cabo por uma criança que correu os perigos da indústria pirotécnica, para ajudar nas despesas da casa. Entre o trabalho duro e o risco de perder – na melhor das hipóteses – os dedos, esta criança cresce apressadamente, com as “revistas de homens grandes” e os cigarros que vai acendendo nos intervalos. Pelo meio, safam-se as ilegalidades com “o envelope” ao fiscal corrompido. À noite, os pesadelos.
Desta vez, a letra vem completa, porque qualquer uma das estrofes detém uma forte mensagem para esta luta que deve ser de todos. Pelas crianças, um dia, há-de ser domingo no Mundo!
Acorda rapaz, o dia rompe
Através do sono escuro.
Abriga o teu corpo de onze anos,
Tens que ir trabalhar no duro.
No ano passado, neste tempo,
Ainda andavas tu na escola,
Mas a família cresce e tu és rijo
E aqui ninguém pede esmola.
Hoje vais ser homem
Por quase nove horas, sabes lá das horas.
Mas talvez amanhã seja domingo no mundo
E tudo bata certo, nem que por um segundo.
Fogo de artifício se ouviria,
Se fosse assim p’ra sempre um dia.
Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Carregas canudos em caixotes,
Fazes fogos de artifício.
Misturas a pólvora às estrelas
E o arco-íris ao bulício
Se chega o fiscal, faz-te de tolo,
Estás ali porque até gostas.
Deixa o patrão dar-lhe o envelope
E ficas logo grande, apostas?
Hoje vais crescer
Para lá do teu tamanho, o cansaço é tamanho.
Mas talvez amanhã seja domingo no mundo
E tudo bata certo nem que por um segundo.
Fogo de artifício explodiria,
Se fosse assim para sempre um dia.
Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Oh! Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Cuidado com o manuseamento,
Não te enganes tu também.
Olhas de soslaio o tipo ao lado,
Que três dedos a menos tem.
Paras para o almoço e a socapa,
Vê revistas de homens grandes.
Vais ter que acender o teu cigarro,
Nem que pelos ares te mandes.
Ah, como é difícil saber do amor,
Eu sei la o que é o amor.
Mas talvez amanhã seja domingo no mundo
E tudo bata certo nem que por um segundo,
Fogo de artifício explodiria,
Se tu me amasses algum dia.
Oh! Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Oh! Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Cuidado! Atenção!
É proibido fazer lume, risco de explosão!
Na fábrica de fogo de artifício,
Houve, dizem, fogo posto
E um menino sonha a noite inteira
Que perdeu no escuro o rosto.