Centro de Saúde – Nem Serviço de Atendimento Permanente, nem parcial.

Um dos factores que mais contribuiu, ao longo dos tempos, para a fixação das populações foi, seguramente, o EMPREGO – viver perto do local de trabalho sempre foi sinal de estabilidade, economia de tempo e de dinheiro, daí aquela máxima: “sou de onde sou e sou de onde estou”. Na “modernidade”, com a mobilidade proporcionada a partir dos anos 90, as famílias passaram a ter outros critérios na escolha do lugar para viver em permanência, sendo determinante nessas decisões, entre outros aspectos, até de índole pessoal e familiar, a qualidade de vida da área de residência e o bem-estar da população proporcionado pelos decisores políticos – compreende-se, assim, ao contrário do passado, a razão de muita gente que trabalha em Vieira do Minho, mesmo sendo natural das terras da Cabreira, se desloque diariamente para cá, vivendo fora, principalmente em Braga, com quem me cruzo diariamente na estrada.

Qualquer Município que se quer impor para atrair a fixação de população, pelo menos, não deixar sair os filhos da terra, tem de ser capaz de disponibilizar bens e serviços de qualidade, desde creches, escolas, mercados (feiras, comércio tradicional e supermercados), serviços de socorro de proximidade (Bombeiros e Cruz Vermelha), farmácias, serviços de segurança (PSP, GNR e Polícia Municipal), transportes, bancos e serviços públicos, equipamentos desportivos, culturais, jardins e, da maior relevância em termos de conforto psicológico, serviços na área da SAÚDE, como hospitais, centros de saúde e clínicas, tudo o resto, incluindo investimentos da iniciativa privada, vem por arrasto.

Vieira do Minho, a vila sede de concelho e as freguesias do território, têm perdido população, encontrando-se esta cada vez mais envelhecida – há mais óbitos que nascimentos e, nesta contas, felizmente, as mortes em resultado da pandemia do Covid 19 não contam! A realidade é que as escolas cada vez têm menos alunos, os jovens tendem a sair da terra, optando pelos centros urbanos, os pais, um dia, seguem-lhes o rasto, as terras começam a ficar “desertas” de gente, mesmo os aposentados acabam por ir viver para as cidades do litoral, onde têm os filhos e outras vivências, regressando à terra, onde têm bens, apenas aos fins-de-semana e uns dias no Verão.

INEM no Centro de Saúde

Na verdade, a falta de uma resposta atempada e de proximidade na área da SAÚDE, cria nas populações uma compreensível insegurança, mais ainda, quando não têm meios próprios para se deslocarem, levando também que algumas pessoas acabem por ir viver a reforma para zonas onde tenham esse conforto assegurado.

Há menos de meia-dúzia de anos, num almoço, um amigo vieirense, à data já aposentado, disse-me que ia vender a vivenda que construiu em Vieira e ia comprar uma habitação em Braga, sempre ficava mais perto dos filhos e dos serviços clínicos – por cá, com o fecho do SAP do Centro de Saúde, sentia-se inseguro, tanto mais que tinha uma doença crónica, que acabou por ser a razão da sua morte precoce, portanto, um exemplo claro que ninguém se sente confortável a mais de 30 minutos de distância de uma unidade primária de saúde!

No passado, vieirenses de Honra, construíram e fundaram um Hospital – Hospital João da Torre – onde vieram a nascer muitos bebés, onde foram feitas cirurgias, onde foram internados doentes e onde foram prestados cuidados de saúde que começavam nas ditas “urgências”, primeiro, sob a administração da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Vieira do Minho, depois, passou para a esfera administrativa do Estado, integrando o Serviço Nacional de Saúde, contra o pagamento àquela entidade, proprietária do Hospital, de uma prestação mensal pela disponibilidade do espaço, ou outra contrapartida que desconheço em concreto… seguiu-se, há uns 30 anos, a construção de um edifício nos terrenos da Santa Casa, para onde transitaram os serviços clínicos de Centro de Saúde, mantendo-se o SAP no velho Hospital.

Trabalhei numas férias escolares no SAP, na recepção, e bem sei que funcionava bem – um serviço 24h00 x 365 dias por ano – nada mau para um concelho como Vieira do Minho, só faltavam os serviços de diagnósticos, por isso, alguns doentes, depois da triagem e de uma primeira abordagem médica, seguiam com um relatório médico para o Hospital S. Marcos de Braga, contudo, muitas situações ficavam logo ali resolvidas, se fosse caso disso, depois do atendimento clínico, havia a garantia de vigilância médica numa das enfermarias do Hospital, divididas pela ala dos Homens e das Mulheres, com alimentação assegurada, serviços de limpeza e enfermagem!

Entretanto, o SAP (Serviço de Atendimento Permanente) mudou-se do rés-do-chão do velho Hospital para a cave do Centro de Saúde que, apesar de não ter condições físicas adequadas, adaptaram o espaço para tal, enquanto o Município se responsabilizou pela construção de um acesso a partir da Avenida João da Torre, ficando a ideia tratar-se de uma situação provisória até à construção de um Centro de Saúde de raiz.

É certo que estes serviços (SAP) da província, em zonas de pouca densidade populacional e longe dos centros de decisão política, que dão despesa ao Estado, como também dão os equipamentos de saúde nas grandes cidades, têm horas “mortas” sem atendimento, principalmente, nas madrugadas, pelo que o entendimento político foi o de racionalizar meios, portanto, apenas factores económicos estiveram em cima da mesa, desconsiderando os cidadãos do concelho de Vieira do Minho que deixaram de ter um serviço de saúde de proximidade durante as 24 horas do dia, que lhes é devido pelo Estado, pois, também devemos ser considerados cidadãos de primeira!

Este triste fado parece a história da “cerca dos javalis”, que lemos nos posts das redes sociais! Sobre o processo do encerramento do SAP, como o conhecemos, a postura dos Vieirenses, políticos incluídos, fazem-me lembrar o texto de Guerra Junqueiro, “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”…

O SAP deixou de ser permanente, encerrando, salvo erro, entre as 00h00 e as 08h00, ou seja, nos gabinetes de Lisboa entenderam que nas terras da Cabreira ninguém ficava doente nem precisava de cuidados médicos urgentes durante estas horas! Houve uma ou outra manifestação e episódios políticos que são do conhecimento público, mas em nada resultaram! Foi prometida uma ambulância e tripulação do IMEN, com a designação SIV, ou seja, com meios diferenciados de suporte imediato de vida, com um enfermeiro/a em permanência, mas o que foi colocado no centro de saúde foi uma ambulância em tudo igual à existente nos Bombeiros, até os “socorristas” tinham os mesmos conhecimentos técnicos, pelo que apenas poderia considerar-se mais um meio (uma ambulância Básica do INEM) que fazia concorrência directa aos Bombeiros: quando saía a ambulância INEM do Centro de Saúde a ambulância INEM dos Bombeiros ficava no Quartel, até que aquela acabou por ser deslocalizada para Braga, uma vez terem chegado à conclusão que, nessas circunstâncias, os Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho, tal como hoje, bem tomavam conta do recado.

Aqui chegados, constata-se que estamos muito pior que no passado, pois, em matéria de prestação de cuidados de saúde, temos recuado anos!

Um dia destes, antes do confinamento das tardes de fim-de-semana, fui interpelado por alguém que se tinha dirigido ao centro de saúde e “bateu com o nariz na porta”, perguntando-me por uma alternativa que passou por deslocar-se ao Hospital da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso ou às várias ofertas na cidade de Braga…

Bom, se não há perspectiva de um novo Centro de Saúde, quando até a localização é um “segredo do presidente da Câmara”, que insiste em não revelar, apesar de todos sabermos qual o terreno do negócio, e o SAP é apenas uma miragem de um passado ingloriamente enterrado, retirem as placas informativas que enganam as pessoas menos habituadas com o progresso propagandeado, para além do mais, é uma má imagem para o turismo em crescimento. Além da placa retratada junto à biblioteca, assim de repente, recordo-me que existem mais 3 sinalizações espalhadas pela vila com a indicação daquilo que não existe – SAP – que os responsáveis políticos locais esqueceram como prioridade para os vieirenses, pois, já nem por isso lutam, concluindo-se estarem conformados com o encerramento como definitivo!

Terreno do futuro Centro de Saúde

Para terminar, já que vem a talhe de foice, e confesso que só recentemente vi a nova inscrição na parede, um amigo perguntou-me se sabia porque razão, depois do arranjo da fachada da Biblioteca Municipal, não foi afixado o nome do patrono – o escritor vieirense, Padre Alves Vieira. Respondi que desconhecia as razões, facto que entristeceu quem lutou na Assembleia Municipal para tal reconhecimento público ao Homem que deixou para os vindouros, entre outros livros, “VIEIRA DO MINHO, NOTICIA HISTORICA E DESCRIPTIVA”. Então, Saúde para Todos, é o que “eu estimo é o que eu desejo”.

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