A Cabreira merece e precisa de investimento público a sério

A Serra da Cabreira é muito mais que aquilo que parece, vista cá de baixo, dos vales da bacia hidrográfica do Rio Ave.

Outrora uma fonte natural de riqueza, assente na produção florestal, ali trabalharam centenas de vieirenses, essencialmente das aldeias do seu perímetro, que na serra encontraram uma fonte de rendimento através do seu trabalho, na verdade, altura em que houve uma preocupação com o ordenamento daquele território, tendo sido construídos caminhos, casas para os guardas florestais, viveiros, no fundo, potenciando a presença humana no local.

Depois de vários anos esquecida, parece que agora a nossa Serra da Cabreira foi redescoberta e passou a ser moda.

Conheço praticamente todos os cantos da Cabreira, mas só há dias fui ver o local requalificado pelo Município de Vieira do Minho e onde dizem ser a nascente do Rio Ave, junto ao estradão para o Talefe.

A limpeza do espaço foi um trabalho meritório, está interessante o arranjo do espaço natural, o resto pareceu-me exagerado, pedras muito trabalhadas para a natureza do espaço, para além de uma exacerbada vaidade, uma necessidade que não se compreende! Qualquer obrinha tem de ter o nome do “patrono”, coisa muito própria de provincianos que querem deixar marca a todo o custo!

Há vários entendimentos sobre o verdadeiro local onde nasce o Rio Ave. Todos compreendemos que ficará o mais próximo possível da cumeada do Talefe, mas não deixa de ser curioso que ainda hoje não haja um consenso. Um dia destes um amigo, sobre esse assunto, comentou que o “autor José Carlos Alves Vieira, na sua obra Vieira do Minho…, trouxe a lume esse tema pertinente (pág. 117 – 1ª edição)”, outro, porém, comentou que num determinado “manuscrito da Casa do Berredo de Cantelães (quatro páginas A4) datado de 1614 onde só na primeira página referia, pelo menos quatro vezes, como uma das confrontações do terrenos na zona baixa de Cantelães o Rio Dave”.

A primeira vez que me recordo da controversa do assunto, foi quando nos anos 80 foi construída a ponte nova do Mosteiro, na EN304, concluindo-se que não atravessava o Rio Ave mas a Ribeira de Cantelães, razão pela qual veio a ser inscrito na parede de betão “Ponte do Mosteiro”. A minha mãe, tal como muitos outros vieirenses, assumia ter aprendido na escola que o Rio Ave era, precisamente, o que vinha do Turio, passava em Cantelães, na base do Castro, e seguia pelo Mosteiro para a barragem do Ermal. Pese embora tivesse um leito maior, por força do barramento das águas no Ermal, para além de poder ter uma extensão maior desde a origem até à barragem, com um caudal apreciável desde fundo do parque, que engrossa com as águas da Ribeira de Tabuaças, o certo é que a Ribeira de Cantelães tem essa designação nas cartas militares, concretamente, na datada de 1948 que consultei.

O Rio Ave, está convencionado, é o Rio que desce desde a Cabreira para Agra, seguindo para Lamedo, em Rossas, até ao Ermal, daí, foi fácil determinar o seu ponto de início, ou seja, a nascente.

Mesmo assim, tenho as minhas reservas… na minha juventude, numa actividade nos escuteiros, foi localizada uma nascente de água próximo da cumeada, nas proximidades da casa do guarda desactivada, dando origem à linha de água a jusante designada por Ribeira de Vilarchão, que passa na ponte medieval entre esta localidade e os Anjos, que entronca na albufeira na Ponte de Figueiró. Na falta de melhor critério, devia assumir-se como nascente do Rio Ave aquela que exista na cota mais alta, e isso só pode ser concluído no terreno, de qualquer das formas, fica claro que o Rio Ave tem várias nascente na  Cabreira e a que está assinalada no terreno é seguramente uma delas.

A nossa Serra da Cabreira também tem os seus encantos, não podendo ser comparável a nenhuma outra, é diferente e isso basta! O Talefe, com os seus 1262 metros de altitude, em dias claros, é um local de um deslumbramento inigualável! Faz a verdadeira fronteira do Minho com Barroso, ou seja, com Trás-os-Montes e o interior, com os picos da Serra do Gerês mesmo ali ao lado, barragens ao longo dos vales e aglomerados populacionais espalhados pelo território. O mais fascinante lá de cima? Assistir ao pôr-do-sol na costa de Esposende.

Da vila de Vieira do Minho (rotunda de Sapinhos) ao alto do Talefe, via Serradela, são 28 quilómetros por uma estrada, digamos, razoável para veículos ligeiros de passageiros, ou seja, veículos turismo. Um acesso com piso em material betuminoso até Zebral (16kms), depois, em macadame até alto da Cabreira. Há caminhos mais curtos, mas apenas para veículos 4×4!

O alto da Cabreira merecia um acesso mais directo e mais curto, estou certo, seria rentabilizado turisticamente, podendo ainda ser aproveitado no futuro em eventos desportivos: Já pensaram, por exemplo, numa rampa da Cabreira? E na volta a Portugal com uma etapa a terminar no alto da Cabreira? Pois, sonhar não custa, Mondim mantêm a tradição do alto da Senhora da Graça e Montalegre quer impor-se com a subida ao Larouco!

Assim de repente, conhecendo o relevo, acho de uma estrada a meia-encosta a partir da cota mais alta da estrada para Zebral (km 9), podia ser uma boa opção, encurtando em muita a distância, podia ser idealizada uma estrada panorâmica voltada para todo o vale de Vieira.

No Município haverá técnicos com capacidade de estudar a situação, julgo eu, e o Município bem poderia fazer um entendimento com o ICNF e com a engenharia do Exército para a idealização desta obra que poderá ser estrutural, de resto, entidades a quem já recorreram, no passado recente, os Municípios de Montalegre e Cabeceiras de Basto, só para dar dois exemplos.

Se queremos que a nossa Cabreira seja o espelho das terras de Vieira, as gentes de Vieira com responsabilidade política devem tê-la em conta quando se debruçarem no seu plano de actividades e de investimento público.

Bom fim-de-semana.

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