Nos últimos 20 anos nunca tinha faltado ao hastear da bandeira, no dia 25 de Abril, em frente à Câmara Municipal de Vieira do Minho. Pelo confinamento a que estamos obrigados, este ano não pude estar presente. E o dia custou a passar… Dei por mim a recordar outros anos e tantas pessoas que desde sempre marcam o meu dia…
Apesar de toda a tecnologia, faltou o aperto de mão e o abraço de muitos amigos e camaradas que neste dia nunca faltam. Faltou o tradicional jantar convívio organizado pelo Partido Socialista. Faltou o discurso do Luís Gomes, de Vilarchão. Faltaram as conversas repetidas anualmente e um ambiente sempre livre. Sempre especial.
Felizmente, para atenuar tudo isto, o PS de Vieira do Minho organizou uma conferência digital que me encheu as medidas. O video está disponível no facebook do PS e merece, sem dúvida, ser visto e ouvido.
A acompanhar a Presidente do PS de Vieira do Minho, Vânia Cruz, participaram a Prof. Isabel Estrada Carvalhais, o Prof. Armando Ferreira e o Prof. Marques Fernandes.
É sempre um gosto ouvir a eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais. Os conhecimentos, a postura e a clareza na transmissão do pensamento fazem com que não nos apercebamos do tempo passar.
Com o Prof. Armando Ferreira pude relembrar as aulas de História (assim, com letra maiúscula) que tive o prazer de ter durante o 10º, 11º e 12º anos. O Prof. Armando foi dos melhores professores que tive e não foi por acaso que quando terminei o ensino secundário entrei para a licenciatura em História, na Universidade do Minho. Mudei de curso posteriormente, mas o gosto pela História manteve-se cá e o Prof. Armando Ferreira é o principal responsável por isso.
Tive também a oportunidade de preencher as saudades das intervenções do Prof. Marques Fernandes. Com ele fiz parte da Assembleia Municipal durante três mandatos, sendo ele líder do grupo municipal do PS. Os seus conhecimentos, a sua ponderação e a capacidade de intervir foram sempre uma mais valia para Vieira do Minho. Foi um gosto ouvi-lo.
Dizia o Prof. Marques Fernandes: “O 25 de Abril é do povo português. Mas nem todo o povo português é do 25 de Abril”. Concordo. Há muita gente com saudades do 24 de abril. Uns dizem-no à boca cheia. Outros não o dizem, mas percebe-se isso pelos actos que praticam. Aqui, no “Cidadania Vieirense” somos do 25 de Abril. Isso custa a muitos porque gostariam de condicionar tudo. Controlar tudo. Esses podem estar certos: não passarão!
Há autarquias que são o maior empregador do seu Concelho. Será que isso é uma ameaça aos valores de Abril? O Prof. Armando Ferreira, a propósito desta possível dependência, afirmou: “Esta dependência obriga a que as pessoas, por vezes, tenham de obedecer não à lei, mas obedecer ao homem. O homem que tem o poder que lhe é concedido pelos cidadãos mas que por vezes se aproveita desse poder para dar e para tirar.” Não podia estar mais de acordo!
O texto já vai longo. No meu pensamento está já o 25 de Abril de 2021. Lá estarei. De gravata. Cravo vermelho. A celebrar a liberdade de que não abdico e que pratico. Pratico aqui, no “Cidadania Vieirense”. Pratico na Assembleia Municipal. Pratico todos os dias.
Seja em que circunstância for, os valores de Abril marcam a minha vida. São estes os valores que procuro passar ao meu filho Rodrigo.
Termino com um poema de Manuel Alegre (País de Abril – Uma Antologia):
LETRA PARA UM HINO
É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.
É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.