O primeiro dia do mês de dezembro é sobejamente conhecido no nosso país – talvez por conta do significado deste dia ainda vamos sendo portugueses, herdeiros lusitanos com muito orgulho. No entanto, o que nem todas as pessoas sabem, é que neste dia, ao nível da saúde, se assinala o Dia Mundial da Luta contra a SIDA, e com ele é relembrado o (ainda) existente estigma que lhe é associado.
SIDA significa Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, um conjunto de problemas de saúde originado pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, habitualmente conhecido por VIH. O sistema imunitário das pessoas que são afetadas por este vírus vai sendo destruído, existindo assim um colapso na defesa dos corpos contra as diversas doenças. O VIH pode ser transmitido através de relações sexuais desprotegidas, sem preservativo; através da partilha de seringas, agulhas ou outro tipo de material utilizado para o consumo de drogas ilícitas – ou seja, todas as ações que implique um contacto/troca sanguíneo/a; ou através da gravidez, em que a mãe se encontra infetada e existe uma transmissão do vírus ao feto.
Este problema de saúde não é transmitido através de abraços, beijos ou outro tipo de manifestações de carinho, nem através da partilha de copos ou talheres. Também não é transmitido pelo uso partilhado das casas-de-banho, pela tosse ou até mesmo por espirros; acima de tudo, o VIH não é transmitido através da conversação ou convívio familiar e social. Convém relembrar que estas formas de contacto são inofensivas, visto que muitas vezes o estigma começa naquilo que é o esquecimento, a ignorância ou o desconhecimento.
A propagação do VIH, e consequentemente o aparecimento da SIDA, continua a ser um problema sério ao nível da saúde comunitária e da saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, no final de 2018 existiam 37,9 milhões de pessoas infetadas e, nesse ano, 770 000 pessoas morreram por causas relacionadas com este vírus, tendo surgido 1,7 milhões de novos casos. São números ainda assustadores e que nos fazem pensar naquilo que ainda falta fazer para combater esta espécie de flagelo. A Organização Mundial de Saúde estima ainda que mais de dois terços da população infetada reside em África, mas, no entanto, nem todos têm acesso ou querem o tratamento de controlo para esta condição, e esta organização indica também que existe um novo público alvo a nível mundial, que apresenta uma crescente e acentuada vulnerabilidade, as raparigas adolescentes.
Há pouco mencionei que ainda existe muito a fazer – e estou segura que isto é uma verdade. A educação da população, em especial dos mais novos que vão ser as gerações do futuro, é essencial para conhecer e prevenir. Igualmente é essencial o despertar do interesse dos mais velhos, visto que os idosos são um dos grupos vulneráveis e mais expostos ao contágio deste vírus, talvez porque ainda existem muitos preconceitos relativamente ao uso do preservativo ou determinados handicaps culturais que não facilitam a educação para a saúde dos seniores, ou a vivência cuidada da sua sexualidade.
Também é importante olharmos para nós, aceitarmos que nem sempre conhecemos tudo e querermos aprender um pouco mais, facilitando assim a diminuição do estigma associado ao VIH, à SIDA e aqueles que apresentam este tipo de problemas de saúde – que, basicamente, não passam disso mesmo, problemas de saúde. Saber que em tocar e conversar não existe qualquer tipo de risco, saber que em partilhar momentos com pessoas que, muitas vezes por acaso, se encontram infetadas não devem existir dificuldades e saber que elas também necessitam do nosso apoio e do nosso cuidado enquanto comunidade.