FESTAS E FESTINHAS

O título, cuja expressão não é da minha lavra, é frequentemente usado como reacção às festas promovidas pelo poder local, não só em Vieira do Minho, pois, até em relação ao executivo municipal de Braga já li esta referência…

Para ser sincero, não aprecio nada a designada política de “Pão e Circo” que cria a impressão, na comunidade, de grande actividade pública, quando, no fundo, apenas visa manter o povo animado e até controlado pelo poder, facilmente manipulado a favor dos seus interesses, passando despercebidos os reais problemas da sociedade.

Chamar o povo às Praças Centrais, oferecendo-lhes espectáculos e alimentação, é prática muito velha, que devia estar esquecida, afinal, era assim que os imperadores romanos mantinham a plebe calma e entretida.

Vem isto a propósito da programação do Município de Vieira do Minho para o ano inteiro, que agora está a chegar ao fim. Chamaram “Sentir Vieira” a esse programa, organizando todos os meses do ano uma farra para o povo… começou em Janeiro com as reisadas, um evento realizado durante muitos anos pela paróquia de Vieira, sempre com o empenho pessoal da dona Aurorinha Freitas, que foi aproveitado pelo Município, e termina em Dezembro com a festa ligada ao azeite.

Na apresentação do programa “Sentir Vieira”, para 2019, foi dado como assente que o seu objectivo é “dinamizar e promover as potencialidades do concelho de Vieira do Minho e revitalizar a economia local”, não posso estar mais em acordo com tão boas intenções, pelo que a ser assim e havendo frutos desse empenho, estariam justificados os esforços acrescidos em termos de despesas públicas.

Todos já conhecemos a “cassete” que nos é apresentada sempre que há uma actividade promovida por este organismo do Município ou apoiada por este. Ora então, como dizem, e cito de cor, temos 4 grandes eventos ao longo do ano no âmbito do programa “Sentir Vieira”: “a Feira do Fumeiro, em Fevereiro, a Agro Vieira, em Junho, a Feira da Ladra, em Outubro, e o Mercado da Castanha, em Novembro”, para além dos outros eventos nos restantes meses.

Se quanto à Feira da Ladra não há muito a dizer, pois, trata-se de uma festividade de referência na região, atento à sua antiguidade – mais de 100 anos – e à sua natureza. Pese embora tenham agora surgido, no mesmo período, outras festividades em Municípios minhotos, recordo que este ano coincidiu com as festas das colheitas, dos produtos locais, ou de teor gastronómico, em Vila Verde, Fafe e Barcelos, a verdade é que a Feira da Ladra tem o seu lugar garantido no calendário das grandes festas anuais do Minho, tem fama qb, impondo-se por mérito próprio, pois, a tradição da festa está enraizada no povo, bastará que não chova para ser um sucesso, ou melhor, ter a adesão de muita gente, porque em termos comerciais tudo depende da carteira do povo! 

O evento que logo se segue à Feira da Ladra, em termos de projecção, parece-me, é a Feira do Fumeiro, com um investimento público grande, de há uns anos a esta parte feita ao ar livre, debaixo de um barracão alugado para o efeito. Não deixa de ser um evento concorrido, proveitoso para quem se dedica ao comércio de produtos ligados à criação de suínos bísaros, bem assim, de outros produtos locais.

Quanto à Agro Vieira, francamente, parece-me que apareceu apenas para cumprir calendário, nem sei verdadeiramente se se justifica! A agricultura em Vieira é de cariz doméstico, produzir para consumir, somos essencialmente um concelho de montanha, pelo que o mais razoável é pensar-se em floresta e produção animal, quanto muito, Agroturismo. Mesmo assim, realizando-se no mês de Junho, portanto, altura do ano com dias grandes e temperaturas de Verão, se não chover, está garantida a presença de povo, haja “concertinas e porco no espeto”!

Finalmente, o Mercado da Castanha, cuja última edição ocorreu, precisamente, há uma semana, mesmo no centro da vila. Pergunta-se, justifica-se? Parece-me que não, é daquelas festinhas que nem no nome “mercado” foi feliz a escolha! Promover, em Novembro, uma festa ao ar livre, dedicada à castanha, um produto que existe no nosso território, como em todo o Minho, mas que não tem qualquer expressão económica, não lembra ao diabo. Um magusto colectivo, ainda se aceita, agora um mercado da castanha!… Alguém conhece um único produtor de castanha em Vieira do  Minho que viva dessa actividade? Recordar-se-ão, como eu, que na edição de 2018 foi feito um programa na TV a partir de Vieira do Minho e, a certa altura, foi entrevistada uma colaboradora do Município que estava na zona onde eram assadas as castanhas para oferecer ao povo, e à pergunta de onde eram as castanhas, foi referido serem de “Bragança”… Estou certo que falou a verdade, mas fazer uma festa a um produto de fora não me parece boa ideia, se aceitam uma sugestão, façam então uma festa ao leitão da Bairrada ou à chanfana de cabra de Poiares, vão ver que o povo também aparecerá!

Qual é, afinal, o denominador comum destas 4 festividades de referência? Naturalmente, está aos olhos de todos, os gastos exagerados nos artistas que vem de fora para animar as noites, ou seja, para chamar mais povo à praça. Já o disse antes, se as condições meteorológicas forem favoráveis, e o nome do artista ou grupo for apelativo, haverá sempre gente para o “baile”, independentemente do dia da festa, nem precisa de ter santo ou patrono, ou qualquer outra organização/fim associado!

Na semana passada foram vários os artistas que estiveram em palco, dois dos quais com nome de projecção nacional, ou seja, artistas das “tardes da TV”, sendo dispendiosas as verbas gastas nesses contratos que, apesar estarmos em período de baixa de preços, ninguém vem de borla a Vieira do Minho. Confesso que apenas na Sexta à noite fui ao centro da vila, onde estive até cerca das 22h30, assistindo a parte do espectáculo do Zezé Fernandes. Estávamos muito poucos na Praça, atento o frio que se fazia sentir, de facto, nada justificava estar ali muito tempo, a certa altura, a banda estava a tocar para as pedras da calçada…

Ninguém estaria à espera de bom tempo em meados de Novembro, por outro lado, há previsões meteorológicas para, pelo menos, 15 dias, pelo que todos sabiam “o tempo” que se ia registar nessas noites. Pelos vistos, no Sábado à noite também estava pouca gente, mais que na Sexta, mas pouca! Assim, justifica-se uma festas destas que apenas traz encargos financeiros? Com um barracão já se justificava? Francamente, parece-me que também não! A ser assim, façam o baile com a prata da casa, pelo menos o dinheiro fica na terra, afinal, a festa convertida em mercado não passou de um magusto público… Vá lá, durante o dia, com transporte de idosos de autocarro para a festarola, pelo menos, teve essa utilidade!

Retorno Económico? Tretas, não houve, senão demonstrem-no. As barraquinhas de vendas, naquela noite de sexta, fecharam todas, todas, muito cedo! Não sei como se fazem essas contas demagógicas, mas esta festinha só terá dados encargos, com empenho de pessoal do Município durante o fim-de-semana, que tem custos, tal como trabalho realizado antes do certame, aluguer de palcos, ornamentações de iluminação pública, (na Praça, contrariamente, pouca e fraca luz), grupos e artistas, pagamento aos proprietários dos bois das chegas, e até, a bela da castanha que, pelos vistos, até era de boa qualidade. Afinal, quanto custou este evento? Pois, as contas têm de ser públicas, mas essa pergunta ninguém da comunicação social a faz para não criar constrangimentos ao edil, só questões de conveniência… Eu, porque não tenho responsabilidades políticas de qualquer natureza, lanço aqui, publicamente, o desafio de publicação dos valores despendidos com estes eventos no site da CM. Aos eleitos, com responsabilidades políticas, exige-se a apresentação clara, transparente e em tempo das contas públicas, todos merecemos saber onde é gasto o dinheiro de todos nós!

Querem um conselho quanto à realização de festas ou eventos dignos que projectem o nome Vieira do Minho para além das fronteiras do concelho e que deixem marcas para o futuro? Façam como outros Municípios que passaram a apostar a sério na promoção de eventos de qualidade, associados a determinados programas temáticos, criando e construindo equipamentos públicos para esse efeito, com espaços de apoio, como fez, por exemplo, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Montalegre, Vinhais, Fafe e até Cabeceiras de Basto, pois, já perceberam que apenas barracadas ao ar livre não convencem ninguém!

Já certa vez escrevi, e reitero isso mesmo, construam um mercado multiusos, será de utilidade todo o ano, para além do mais, poderá fazer a diferença no sucesso das “festas e festinhas”, o  improviso poderá ser um bom ponto de partida, mas, apostar sempre no erro demonstra falta de ambição e, principalmente, de visão.

Então bom fim-de-semana, é  que eu estimo, é o que eu desejo.

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