Depois de 4 dias de festa, encerra hoje a FEIRA DA LADRA , edição de 2019.
As origens da Feira da Ladra, em concreto, são desconhecidas, seguramente, ocorreram em finais do Séc XIX, tratando-se de uma feira anual por altura das colheitas, que se aproveitava para o comércio de produtos agrícolas, compra de alfaias e ferramentas, que vinham de fora, sendo também significante, o comércio de animais – bovinos, caprinos e ovinos, equídeos e outros.
A Feira da Ladra em Vieira tem a primeira referência oficial, em documentos da Câmara Municipal de então, numa acta de 29 de Setembro de 1901, tratando-se de uma verdadeira feira de produtos, que o povo acabava por aproveitar para o ócio e para a diversão, considerando encontrarem-se feitas as colheitas da época. Na capital do Reino já havia uma Feira da Ladra que se realizava regularmente desde a época medieval, havendo várias teses quanto à origem do nome, o mesmo se passando quanto ao nome adoptado em Vieira do Minho, podendo tratar-se de uma cópia provinciana do nome da Feira de Lisboa, contudo, o que tem passado como certo é que o nome de deve à utilização de uma vara com uma racha que era aproveitada para “roubar” uns cachos de uvas a caminho da Feira de Vieira. A mim, francamente, não me parece razoável esta explicação, até porque o clima era outro, com um Outono mais rigoroso, pelo que na altura da feira já as vindimas estavam feitas, aliás, já se comercializava vinho que, como se sabe, nunca foi o forte destas terras da Cabreira, ao contrário dos vales do Tâmega na região de Basto. De qualquer das formas, na falta de melhor explicação (já li o bastante para ter dúvidas a esse respeito), a versão oficial é a da vara rachada, seja, portanto, mas também é certo que o “vocábulo ladra é o mesmo que cambo ou câmbio, isto é, troca, permutação de dinheiro”
Aqui chegados, importa ainda dizer que, inicialmente, a Feira era realizada na “Praça Velha”, no espaço da actual sede da Junta de Freguesia de Vieira do Minho, sendo depois transferida para o centro da Vila (Praça Dr Guilherme de Abreu, deputado da Nação falecido em 1902), ganhando um impulso generoso nos anos 30, do século passado, era presidente da Câmara Municipal o Dr. José Duarte Carrilho, que também criou os Bombeiros Voluntários de Vieira do Minho em 1940, tendo sido o seu primeiro Presidente de Direcção. Desde então, passou o Município de Vieira do Minho a ter uma acção directa na Feira, a par com as comissões criadas para o efeito, cuja matriz foi alterada, com a introdução de uma vertente festiva ao evento, surgindo uma propaganda associada à festa concelhia, que passou a contar com bandas de música, fogo, diversões e iluminações, captando, assim, mais interesse das populações da região.
A Feira da Ladra, tal como a conhecemos hoje, foi ganhando espaço e prestígio, muito devido ao crescimento da vila para norte, nos anos 90, altura que também foi introduzido nos programas festivos as chegas de bois replicadas das tradições de Barroso.
Presentemente, a Feira da Ladra é organizada pelo Município de Vieira do Minho, com o natural apoio de outras instituições, como a Cooperativa Agrícola, que também suporta as despesas das festas concelhias, apenas atenuadas pelo pagamento dos espaços usados pelos feirantes.
Por regra, a Feira da Ladra, é concorrida, e corre bem para todos, quando as condições atmosféricas são favoráveis, aliás, se não chover, já estão reunidas as condições para ser um sucesso, mesmo que o programa de variedade não seja a gosto! As despesas com os espectáculos de variedades e musicais, são o encargo maior em todas as edições, sendo que ultimamente, uma decisão que se aplaude, deixaram de ser contratadas Bandas Musicais de fora do concelho, bastante dispendiosas, e passaram as bandas de Vilarchão e Vieira do Minho a actuar na tarde de Domingo – tal não aconteceu nesta edição de 2019 devido à chuva intensa que se registou.
Não tendo em conta os valores do orçamento da Feira da Ladra, que desconheço, impõe-se uma pergunta: A Festa anual da Feira da Ladra pode melhorar, tem condições para se impor como um destino de referência na região? Importa fazer uma reflexão séria, uma vez que nos últimos anos tem coincidido com outras festividades nesta zona minhota, por exemplo, este fim-de-semana houve festa das colheita em Vila Verde, festival da vitela assada em Fafe e Festa do Galo e Expo-Barcelos naquela cidade, com programas associados e transmissões directas de canais da TV.
Bem sabemos que este ano as obras no Largo Brás da Mota criaram constrangimentos no desenrolar da Feira, mas, na sua opinião, os espaços para a realização da FDL estão bem organizados? Justifica-se um palco para espectáculos na Praça do Bombeiro Voluntário? A Avenida Barjona de Freitas não deveria estar mais desafogada de tendas por forma a permitir o desfile de ranchos folclóricos, das bandas musicais e, no Domingo, o grande desfile etnográfico, como acontecia no passado recente?
Relativamente à fluidez de trânsito, poder-se-á pensar em alguma inovação que melhore as coisas? O estacionamento melhorou? A este propósito, salientar a iniciativa da Associação de festas de Cantelães, que criou um parque de estacionamento para veículos ligeiros, em terrenos privados. Muito bem, um proveito com utilidade.
Há um aspecto NEGATIVO que tenho de salientar: o abuso por parte de alguns feirantes que estacionaram os veículos, durante os vários dias, em cima do jardim, literalmente sobre a relva, numa total impunidade, isto, na Praça central da Vila. Incompreensível que tal tenha sido permitido… Esta gente não merece, no próximo ano, ocupar os melhores lugares da festa, uma imagem despudorada que envergonha qualquer pessoa com civismo.
Hoje, na chega de bois, bastante concorrida e bem organizada, ouvi pessoas a queixarem-se da falta de WC para senhoras, enquanto os homens se desenrascavam numa qualquer protecção no parque urbano dos moinhos, tendo também sido criticado o facto de um expositor de tractores agrícolas ter usado o espaço junto à pista dos cavalos e das chegas, exibindo ainda placas publicitárias em impediam a visualização dos eventos ali organizados… Também concordei, um reparo a ter em conta nos próximos eventos no parque do moinhos.
Houve, ao longo dos quatro dias, espectáculos para todos os gostos, como se costuma dizer, uns mais concorridos que outros, mas muita coisa poderá e deverá melhorar na edição de 2020, todos podemos dar a nossa opinião, podendo ser um contributo para quem de direito melhorar as condições da festa da Feira da Ladra, um legado que vem de longe e nos pertence a todos.
Quanto à Feira do Ladra, até para o ano.